A palavra escrita, é o ato de expressão de ideias humanas por meio de sinais, e a palavra Yalodê, Ìyálodè, ìalodê ou Yalodé, uma palavra de origem iorubana que tem como significado: aquela que lidera as mulheres na cidade e/ou a dona do grande poder feminino.
Desde a era antiga, o papel das mulheres no desenvolvimento comunitário africano tem sido pouco documentado. Parece que apenas mulheres que tiveram a vantagem de uma estrutura real hereditária na ascensão à liderança receberam mais documentação em comparação com líderes femininas não-monárquicas. A fraca documentação da força das mulheres na construção da nação africana, antes do domínio colonial, não é diferente de muitos conteúdos históricos não documentados ou distorcidos do patrimônio do povo. No entanto, algumas culturas que ainda mantêm a importância da liderança feminina, mesmo na era contemporânea, sugerem que, de fato, os antepassados e ancestrais do povo tinham um forte apreço pelo gênero feminino no desenvolvimento comunitário. No governo tradicional africano de algumas tribos e nações, havia cargos ou títulos específicos dedicados a líderes mulheres.
Talvez a chegada do domínio colonial e seus conteúdos democráticos ocidentais tenham, ao longo dos séculos, erodido os papéis das mulheres no desenvolvimento comunitário de algumas dessas antigas tradições. Para algumas culturas, nem tudo está perdido, pois os remanescentes das antigas tradições de liderança feminina ainda estão bem preservados, e até mesmo institucionalizados na governança moderna e contemporânea.
O papel das mulheres, independentemente do status familiar ou de classe, tem sido capturado na ideologia de governança do povo Yorùbá, por exemplo. A falecida Profª Sophie Oluwole (12 de maio de 1935 – 23 de dezembro de 2018) resumiu os conteúdos democráticos tradicionais Yorùbá. A Profª Oluwole, uma estudiosa da tradição Yorùbá, disse a seu anfitrião durante um programa de rádio que, em Yorùbáland, quatro pessoas sábias governam o povo: um homem idoso, uma mulher idosa, um jovem idoso e um migrante idoso. Idoso, neste contexto, simplesmente denota ser possuidor de sabedoria. Os Yorùbá sempre inferem que a sabedoria não conhece idade ou gênero, embora ‘idoso’ seja aplicado para definir sabedoria. O papel das mulheres na ideologia de governança do povo Yorùbá claramente desfaz o estereótipo de que o gênero feminino não tinha um papel importante nos tempos antigos.
Exemplos de tais papéis femininos não-reais ou não-monárquicos foram mantidos em cargos tradicionais Yorùbá, como Iyalaje (mulher empreendedora), Iyalode (modelo feminino) e Iyaloja (líder do mercado feminino). Nos últimos 300 anos ou mais, cada um desses cargos femininos foi incorporado à governança da comunidade Yorùbá. Além da mãe biológica do rei, Iya Oba (Rainha Mãe), a tradição Yorùbá de antigamente tinha outras mulheres que ocupavam títulos como Iyalagbon (mãe do príncipe herdeiro), Iya Mole (sacerdotisa de Ifá), Iya Yemaja (sacerdotisa de Yemaja) e Iyamode (sacerdotisa de Sango), entre outras no contexto religioso tradicional. Mas os mais amplamente aceitos e estruturados no desenvolvimento moderno e contemporâneo do povo são Iyalode, Iyalaje e Iyaloja. Dificilmente algum governo tradicional Yorùbá está completo sem Iyalode e Iyalaje.
O título de Ìyálòdé é um dos mais significativos e respeitados dentro da cultura e tradição Yorùbá. Este título é conferido a mulheres de elevada estatura social e moral, que desempenham funções essenciais na estrutura social, política e religiosa das comunidades Yorùbá. A análise do significado de Ìyálòdé e das suas funções dentro da tradição, religião e filosofia Yorùbá revela uma rica tapeçaria de responsabilidade, liderança e influência.
Na sociedade Yorùbá, o título de Ìyálòdé é uma posição de grande prestígio e honra. A palavra “Ìyálòdé” é composta por “Ìyá” (mãe) e “Ódè” (líder público ou guerreiro), sugerindo a ideia de uma mãe que lidera ou uma figura materna com responsabilidade pública. Este título é tradicionalmente conferido à mulher mais proeminente de uma comunidade, que se destaca não apenas por sua riqueza ou posição social, mas principalmente por sua sabedoria, capacidade de liderança e envolvimento comunitário.
A Ìyálòdé é frequentemente vista como a voz das mulheres dentro da comunidade e é responsável por defender os interesses das mulheres, ao mesmo tempo em que desempenha papéis importantes em decisões comunitárias e governamentais. Este título simboliza a importância da liderança feminina e a influência das mulheres na sociedade Yorùbá, desafiando a percepção de que as sociedades africanas são predominantemente patriarcais.
As funções da Ìyálòdé são variadas e abrangem várias esferas da vida comunitária:
- Liderança e Mediação: A Ìyálòdé atua como uma mediadora em disputas dentro da comunidade, especialmente aquelas que envolvem mulheres. Ela é uma figura de autoridade que assegura que as vozes femininas sejam ouvidas e respeitadas em todas as decisões importantes.
- Representação Política: A Ìyálòdé frequentemente participa em reuniões de conselho com os líderes masculinos da comunidade, onde desempenha um papel crucial na formulação de políticas e na tomada de decisões que afetam toda a comunidade.
- Orientação e Mentoria: Ela serve como mentora para as mulheres mais jovens, oferecendo orientação sobre uma variedade de questões, desde assuntos domésticos até questões de liderança e participação comunitária.
- Preservação Cultural: A Ìyálòdé desempenha um papel vital na preservação e transmissão das tradições e valores culturais Yorùbá. Ela participa ativamente de cerimônias e rituais, garantindo que as práticas culturais sejam mantidas e respeitadas.
No contexto religioso, a Ìyálòdé também desempenha papéis significativos:
- Participação em Rituais: A Ìyálòdé tem um lugar de destaque em muitos rituais religiosos, onde sua presença simboliza a participação e o envolvimento das mulheres na vida espiritual da comunidade.
- Intermediação Espiritual: Ela pode atuar como uma intermediária entre a comunidade e os deuses, particularmente em cultos aos Òrìṣà (divindades), onde sua autoridade espiritual é reconhecida e respeitada.
- Educação Religiosa: A Ìyálòdé frequentemente tem a responsabilidade de ensinar e orientar os membros mais jovens da comunidade sobre práticas religiosas e crenças, assegurando que o conhecimento espiritual seja passado de geração em geração
A Ìyálóde é uma chefe feminina de alto escalão na maioria dos estados tradicionais yorùbá. O título é atualmente conferido pelos obas, embora Njoku tenha afirmado em 2002 que o processo de escolha de uma Ìyálóde na Nigéria pré-colonial era menos uma escolha do monarca e mais um reconhecimento das conquistas e do envolvimento da mulher a ser honrada em questões econômicas e políticas.
Historicamente, portanto, a Ìyálóde não servia apenas como representante das mulheres no conselho, mas também como uma influenciadora política e econômica na Nigéria pré-colonial e colonial. Referida na mitologia yorùbá como Oba Obirin ou “Rei das Mulheres”, as opiniões de uma Ìyálóde geralmente são consideradas no processo de tomada de decisão pelo conselho de altos chefes. Em 2017, Olatunji, da Universidade de Educação Tai Solarin, comparou o papel desempenhado por uma Ìyálóde ao do feminismo moderno. Ele explicou que uma Ìyálóde do século XIX, Madam Tinubu, foi uma das pessoas mais ricas em Yorubaland e desempenhou um papel crucial na escolha de quem se tornaria rei tanto em Lagos – onde se casou com um oba – quanto em Egbaland – onde contribuiu para o esforço de guerra de seus companheiros Egbas.
Mosadomi opinou que a influência da Ìyálóde nunca se limitou apenas às mulheres, mas transcende suas funções oficiais e inclui toda a estrutura política, cultural e religiosa do povo yorùbá, citando Tinubu e Efunsetan Aniwura como exemplos óbvios. Sofola (1991) corrobora isso ao afirmar que “Não importa quão poderoso um Oba possa ser, ele nunca poderá ser uma Ìyálóde”. Segundo o Professor Olasupo, a autoridade do título de Ìyálóde na Nigéria moderna não é tão extensa quanto antes. Um Alaafin de Oyo, Lamidi Adeyemi, identificou a extinção cultural causada pela “modernidade” como motivo para esse desenvolvimento. Ele lembrou que as mulheres tinham papéis mais importantes no círculo de liderança de Yorubaland no passado. Por exemplo, Tinubu é relatada como tendo exercido tanto poder que impediu o Oba de Lagos de fazer de Lagos uma colônia britânica por um período.
A chefe Ẹfúnṣetán Aníwúrà (c. 1820s – 30 de junho de 1874) foi a segunda Iyalode de Ibadan e uma das principais traficantes de escravos no Ibadan do século XIX. Reverenciada como uma comerciante e negociante de sucesso, seu impacto abrangeu as esferas política, militar, econômica e religiosa de Ibadan. Ela era famosa por ser, indiscutivelmente, a mulher yorùbá mais poderosa e, certamente, uma das mais ricas que já existiram. Foi descrita por historiadores como uma líder autoritária, que frequentemente utilizava a pena capital em escravos errantes. Isso foi atribuído ao colapso psicológico resultante da morte de sua única filha e sua incapacidade de procriar posteriormente.
No Brasil, e dentro da prática do candomblé, a religião derivada da religião tradicional yorùbá, Ialodê (em yorùbá: Ìyálòdè) é um termo honorífico dado aos orixás femininos nas casas de candomblé. Em Ibadã, na Nigéria, é um título administrativo utilizado exclusivamente por mulheres que têm a função de representar as mulheres em seus assuntos. O título foi introduzido pelo baxorum Oluyole, do Império de Oió, nos anos 1830, para ser atribuído às mulheres de distinção.
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A filosofia Yorùbá é rica em conceitos de equilíbrio, harmonia e respeito pelas forças complementares do universo. Dentro dessa filosofia, a Ìyálòdé representa o equilíbrio entre o masculino e o feminino, sendo uma força vital que garante que as perspectivas femininas sejam integradas em todos os aspectos da vida comunitária.
- Símbolo de Equilíbrio: A Ìyálòdé é vista como um símbolo de equilíbrio, representando a necessidade de harmonia entre as diferentes forças dentro da comunidade. Sua presença no conselho e em outras esferas de tomada de decisão é uma manifestação física desse equilíbrio filosófico.
- Protetora dos Valores Éticos : Como guardiã dos valores culturais e éticos, a Ìyálòdé assegura que as práticas e decisões da comunidade estejam alinhadas com os princípios filosóficos Yorùbá de justiça, honestidade e respeito.
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Modelo de Sabedoria: A Ìyálòdé é frequentemente uma mulher de grande sabedoria e experiência, que exemplifica os ideais filosóficos de aprendizado contínuo, reflexão e aplicação prática do conhecimento para o bem da comunidade.
O título de Ìyálòdé é mais do que um simples título honorário; ele representa a profunda reverência pela liderança feminina e a contribuição essencial das mulheres na cultura Yorùbá. A Ìyálòdé desempenha um papel multifacetado que abrange liderança política, representação religiosa e preservação cultural, além de ser um pilar da filosofia Yorùbá. Através de sua posição, ela exemplifica os valores de sabedoria, equilíbrio e justiça, servindo como uma guia e protetora da comunidade. Este título reflete a rica tapeçaria da tradição Yorùbá e a importância fundamental das mulheres na sustentação e avanço dessa herança cultural.
