O rio Òṣún, conhecido em Yorùbá como Odò Òṣún, nasce no estado de Èkìtì e segue em direção oeste até o estado de Òṣún. Após encontrar-se com o rio Erinle próximo à cidade de Ede, continua seu curso em direção ao sudoeste, atravessando o reservatório de Asejire e fluindo pelos estados de Òṣún e Ògùn até desaguar na Lagoa de Lekki e, finalmente, no Oceano Atlântico. Este rio é dedicado à Òṣún, uma das divindades mais veneradas do panteão Yorùbá, destacando-se como um marco cultural e espiritual.
A celebração anual no santuário de Òṣún, localizado próximo ao rio em Òṣogbo, tornou-se um evento de peregrinação reconhecido mundialmente, especialmente durante o famoso festival em agosto. Òṣún, deusa dos rios e fertilidade, é tradicionalmente vista como uma das esposas de Ṣàngó, o Òrìṣà do trovão, sendo conhecida por sua generosidade e cuidado com seus devotos.
As origens de Òṣún estão profundamente enraizadas em Ìgèdè-Èkìtì, no estado de Èkìtì. Nessa cidade, encontra-se a fonte do rio que leva seu nome. Òṣún nasceu como a terceira filha de Aké, um príncipe e caçador de Ilé-Ifẹ̀, e sua esposa, Erindo. O casal teve dezesseis filhos, entre eles os rios Ògbésè e Èlémì. Após uma disputa familiar sobre quem herdaria o legado do pai, Òṣún transformou-se em um rio, selando sua transição para divindade.
O nome Ìgèdè deriva de “Ògèdè,” que significa “encantação,” refletindo a relevância espiritual e histórica da cidade. Ìgèdè-Èkìtì é lar de mais de dezesseis rios, todos originados em sua terra, sem que nenhum flua para dentro da cidade. Òṣún é associada à fertilidade, sendo conhecida por transformar vidas e abençoar mulheres estéreis.
O Bosque Sagrado de Òṣún, em Òṣogbo, destaca-se como um dos últimos remanescentes de florestas primárias no sul da Nigéria, simbolizando um refúgio espiritual e cultural. É considerado o lar de Òṣún e abriga santuários, esculturas e obras de arte dedicadas a ela e a outros Òrìṣà. Este bosque é um marco de continuidade das tradições antigas, sendo também um espaço de preservação ambiental e celebração artística. Embora bosques sagrados fossem comuns no passado, muitos desapareceram ou diminuíram. Òṣogbo preserva o maior bosque remanescente, com quarenta santuários, esculturas, palácios e locais sagrados ao longo das margens do rio.
Nos últimos anos, artistas locais e internacionais revitalizaram o bosque, criando esculturas modernas que reforçam os laços entre as pessoas e o panteão Yorùbá. O festival anual de Òṣún, realizado em julho e agosto, celebra essa conexão espiritual e cultural, preservando a essência da tradição Yorùbá.
Segundo o sistema de adivinhação de Ifá, central na espiritualidade Yorùbá, Ìgèdè Èkìtì é reconhecida como a origem sagrada de Òṣún. Os versos de Ifá narram sua transformação espiritual, descrevendo-a como uma divindade primordial ligada às águas doces e ao equilíbrio da criação. Ifá também menciona que, apesar de sua posterior associação com Òṣogbo, sua essência permanece enraizada em Ìgèdè.
Os cânticos de Ifá exaltam Òṣún como uma rainha benevolente que abençoa as águas de Ìgèdè. Embora tenha se mudado para Òṣogbo, sua ligação espiritual com Ìgèdè nunca foi rompida. Sacerdotes de Òṣogbo visitam as fontes de Òṣún em Ìgèdè antes do festival anual, reafirmando essa conexão ancestral.
Apesar da fama internacional de Òṣogbo, impulsionada pela artista austríaca Susanne Wenger, pelo reconhecimento da UNESCO e pelo movimento artístico local, Ìgèdè Èkìtì mantém-se como o berço de Òṣún. O envolvimento de Wenger e outros artistas elevou Òṣogbo a um ícone cultural, enquanto Ìgèdè permaneceu focada em sua significância espiritual local.
Reconhecer Ìgèdè Èkìtì como a verdadeira origem de Òṣún é essencial para preservar a narrativa completa dessa tradição espiritual. Sua relevância histórica e espiritual ressoa profundamente, assegurando que o legado de Òṣún continue a ser celebrado tanto em Ìgèdè quanto em Òṣogbo.
Òṣún, uma das divindades mais veneradas da cultura Yorùbá, transcende sua conexão com locais como Ìgèdè Èkìtì e Òṣogbo, influenciando profundamente a diáspora africana em países como Brasil, Cuba e Estados Unidos. Conhecida como Oxum no Candomblé, é celebrada por sua associação com amor, fertilidade e maternidade, simbolizando resistência cultural e resiliência diante da opressão. Òṣún também atua como mediadora espiritual, promovendo harmonia e equilíbrio.
No mundo moderno, tornou-se um símbolo de empoderamento feminino e inspiração para movimentos artísticos e acadêmicos. Suas histórias destacam a necessidade de preservar ecossistemas sagrados, reforçando sua relevância como um ícone espiritual e ambiental. Òṣún representa conexão cultural e renovação, essencial para celebrar e preservar as tradições Yorùbá na diáspora e além.
