A Reformed Ogboni Fraternity (ROF) é uma organização que surgiu a partir da tradição ancestral dos Yorùbá, adaptada às influências do cristianismo e da modernidade. Fundada em 1914 por Archdeacon T. A. J. Ogunbiyi, a ROF foi criada na Nigéria com o objetivo de preservar valores morais, justiça social e fraternidade, inspirados na antiga sociedade Ogboni, mas ajustados ao contexto religioso e social em evolução, especialmente em relação ao cristianismo.
A sociedade Ogboni tradicional, entre os Yorùbá, desempenhava um papel central nas estruturas políticas e espirituais das comunidades. Atuava como guardiã das leis divinas e humanas, mediando disputas, protegendo a ordem social e reverenciando a Terra como símbolo sagrado da criação. Contudo, com a chegada do cristianismo e da colonização, a sociedade Ogboni foi frequentemente vista como associada a práticas incompatíveis com os valores cristãos. A criação da ROF buscou revitalizar esses ideais de maneira compatível com a fé cristã, promovendo ética e espiritualidade sem os rituais tradicionais rejeitados pelo Ocidente.
Dentro do contexto cristão, a ROF mantém os princípios de unidade, fraternidade e busca pela verdade, mas substitui elementos espirituais tradicionais por ensinamentos baseados na Bíblia. Os membros, frequentemente cristãos praticantes, consideram a fraternidade uma extensão de suas responsabilidades espirituais e sociais. Embora não esteja oficialmente vinculada à igreja, a ROF é reconhecida em muitos círculos cristãos como um movimento ético. Apesar disso, enfrenta críticas de alguns que a acusam de preservar traços ocultistas, enquanto seus defensores destacam sua ênfase na moralidade e no serviço comunitário.
O sincretismo religioso é uma característica marcante da cultura Yorùbá, e a ROF reflete esse fenômeno. Assim como o cristianismo foi sincretizado com as práticas tradicionais para formar movimentos como o Candomblé e a Santeria, a ROF reinterpreta os ideais Ogboni em um molde cristão. Os símbolos e valores, como a reverência pela Terra, o respeito à ancestralidade e a justiça, são reinterpretados como virtudes cristãs. Por exemplo, a cruz, símbolo central na ROF, é frequentemente combinada com elementos simbólicos ancestrais.
Na tradição Yorùbá contemporânea, existe uma distinção entre o Ogboni tradicional e o chamado “Ogboni dos ricos”. Este último é associado às elites políticas e econômicas, que utilizam a simbologia e a estrutura de poder de Ogboni para reforçar seu status social e obter influência. No contexto da ROF, a presença de membros da elite, como o ex-presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, reforça sua reputação como uma organização de prestígio. No entanto, essa elitização também é criticada, pois sugere que os princípios de fraternidade e igualdade podem ser comprometidos em favor do poder material.
A Reformed Ogboni Fraternity é um exemplo fascinante de como uma tradição ancestral pode ser reformulada para se ajustar a novos contextos religiosos e sociais. Ao preservar os valores fundamentais da sociedade Ogboni, a ROF demonstra o dinamismo da cultura Yorùbá e sua capacidade de adaptação. Entretanto, o desafio de equilibrar espiritualidade, tradição e modernidade continua sendo uma questão central para a fraternidade e seus membros.
A sociedade Ogboni tradicional e a Reformed Ogboni Fraternity (ROF) representam diferentes expressões de uma mesma herança cultural Yorùbá, ajustadas a contextos distintos. O Ogboni tradicional era profundamente enraizado nas práticas espirituais e sociais das comunidades, funcionando como guardião das leis divinas, da justiça e da ordem social, com forte ligação à ancestralidade e aos rituais sagrados.
Por outro lado, a ROF surgiu como uma resposta às mudanças trazidas pela colonização e pelo cristianismo. Ela manteve os princípios éticos e comunitários do Ogboni, mas reinterpretou esses valores sob uma perspectiva cristã, removendo elementos ritualísticos tradicionais e adaptando-se ao cenário religioso e social da época.
Enquanto o Ogboni tradicional tinha um papel central nas decisões políticas e espirituais das aldeias, a ROF é mais associada a um movimento ético e fraternal moderno, muitas vezes vinculado às elites. Essa transformação reflete tanto o dinamismo da cultura Yorùbá quanto os desafios de preservar tradições em um mundo em constante mudança.
Apesar das diferenças, ambas as formas de Ogboni compartilham um objetivo comum: promover justiça, unidade e fraternidade. A comparação entre elas mostra como uma tradição pode se transformar para se manter relevante, enquanto ainda carrega consigo os valores fundamentais que definem sua essência.
