“ Antes de qualquer palavra, antes de qualquer pedido, há um gesto que abre os caminhos- Ìjúbà-Mòjúbà na tradição Yorùbá- este não é apenas um ato de saudação — é um rito de reconhecimento, um fundamento de respeito e ancestralidade. Inclinar-se diante dos que vieram antes, reverenciar os Òrìṣà, a terra, o céu e todas as forças invisíveis que sustentam o mundo, é afirmar que ninguém está só, que toda existência se apoia sobre alicerces antigos e sagrados.
Ìjúbà é a voz que limpa os espinhos do caminho. Mòjúbà é o coração que se curva com sabedoria. Juntas, essas palavras tecem um elo entre o visível e o invisível, entre o agora e o antes, entre o ser e o orí. Não se inicia um culto, uma oração, uma oferenda ou mesmo um encontro sem antes oferecer essa saudação. Ela é a chave que abre as portas do sagrado.
Nesta tradição, saudar é recordar. É reconhecer a hierarquia espiritual e a presença dos ancestrais. É plantar o respeito para colher a bênção. Assim começa nossa jornada pelo sentido profundo de Ìjúbà-Mòjúbà, onde cada gesto carrega um mundo e cada palavra reverbera na eternidade” – –Adéyínká Ọláìyá
Na religião tradicional Yorùbá, fazer Ìjúbà, e dizer Mójúbà— ou seja, prestar reverência e saudar com respeito — é um ato fundamental ao se aproximar dos assentamentos dos Òrìṣàs (òrìṣà). Ìjúbà-Mójúbà não é apenas uma saudação formal, mas uma invocação espiritual que abre caminhos, reconhece hierarquias sagradas e estabelece conexão com as energias ancestrais.
Ao dizer Mójúbà, a pessoa pede licença e honra a presença espiritual que habita aquele espaço. Nenhuma oferenda, reza ou ritual deve ser iniciado sem essa saudação, pois ela prepara tanto o ambiente quanto a consciência do devoto para o contato com o sagrado.
Nesse gesto, não apenas os Òrìṣàs são saudados, mas também os ancestrais (Ìgbàlè), os bàbáláwos, Ìyálòrìṣàs, mestres espirituais e até os instrumentos sagrados. Esse reconhecimento demonstra humildade, respeito e uma profunda consciência da linhagem espiritual à qual o devoto pertence. Ijúbà-Mójúbà também é uma forma poderosa de atrair o Àṣẹ— a força vital que sustenta o universo e os seres. Ele garante que o trabalho espiritual tenha eficácia e seja bem recebido, harmonizando o corpo, o espírito e o espaço com as forças divinas.
Além disso, ao reconhecer os Òrìṣàs e os ancestrais com reverência, o devoto se protege contra desequilíbrios espirituais. A saudação atua como uma ponte entre o humano e o divino, fortalecendo o equilíbrio e afastando forças indesejadas. Esse gesto sagrado também assegura a continuidade da tradição. Ao dizer Mójúbà, o devoto transmite os valores essenciais da cultura Yorùbá — o respeito, a gratidão, a consciência espiritual e a ordem ancestral. Cada saudação ecoa a sabedoria dos antigos, mantendo viva a herança e a espiritualidade do povo Yorùbá.
Em idioma Yorùbá , Ìjúbà é o gesto inicial de reverência. A palavra literalmente significa “fazer/realizar a saudação” (ì + júbà – onde júbà é “saudar com respeito”). É uma ação: o movimento físico e espiritual de curvar-se ou saudar, seja com palavras, com o corpo (ajoelhar-se, deitar-se no chão), ou com oferendas. Na prática espiritual, dizemos: “Mo wá ṣe ìjúbà” – Vim prestar saudação.
Mòjúbà é a forma específica e personalizada da saudação. Literalmente, significa “eu saúdo com respeito” ou “eu reverencio”. É a verbalização da saudação feita com intenção e direcionamento. Quando dizemos Mòjúbà, estamos expressando diretamente respeito a uma força específica: um Òrìṣà, um ancestral, ou uma figura espiritual. Por exemplo: “Èṣù, Mòjúbà ó!” – “Èṣù, eu lhe saúdo com reverência!”
Ìbà, por sua vez, é um tipo mais cerimonial e poético de saudação. É um louvor honroso e elevado, usado muitas vezes em cantos, oríkìs, e rituais mais profundos. Ìbà também pode ser usado para marcar o respeito devido a forças espirituais, mas de maneira mais solene e invocadora. Exemplo: “Ìbà Èṣù, Ọ̀nà mí ò ní di!” – “Louvor a Èṣù, que meu caminho não se feche
Enquanto Ìjúbà representa o ato, Mòjúbà é a expressão direta, e Ìbà é a saudação enaltecida. Cada uma carrega um tom diferente, mas todas nascem do mesmo princípio: o respeito e a consciência da presença do sagrado.
ỌFỌ́ IJÚBA – MÓJÚBÀ….
YORUBA: Ewúrẹ́ tó wọ ilé tí ò júbà, ó di ẹran àmúsọ;
Agùntàn tó wọ ilé tí ò júbà, ó di ẹran àmúsọ;
Ṣùgbọ́n èmi, Adéyínká Ọláìyá, wọ ilé Mòjúbà ó!
Ẹ má jẹ́ kí n di ẹran àmúsọ o!
Ẹ jẹ́ kí ìbà mi ṣé o! Àṣẹ!
Portugues: A cabra que entrou na casa sem saudar, tornou-se carne para sacrifício; o carneiro que entrou na casa e não saudou, também se tornou carne para sacrifício; mas eu Adéyínká Ọláìyá entrou na casa e saudei dizendo Mòjúbà! Que vocês não deixem que eu me torne carne para sacrifício! Que a minha Ìbà seja aceita! Axé!
Mójúbà é, portanto, mais do que um gesto: é oração viva, reconhecimento sagrado e chave espiritual que abre as portas do Òrun (mundo espiritual) para o Ayé (mundo terreno). Ao chegar a um assentamento, o devoto deve se ajoelhar, tocar a testa no chão e com reverência dizer: “Mójúbà, gbogbo òrìṣà, gbogbo àtọ̀runwá, gbogbo agbà…” — chamando um a um, com amor, respeito e devoção.
